Em primeiro lugar, tinha ficado claro com os mimos e com os cupcakes que o grupo não iria passar apenas pelo teatro, não seria só mais um grupo de teatro.
Na verdade, nunca tivemos a intenção de fazer apenas teatro, todos tínhamos outras artes, outros gostos e experiências.
Por exemplo: a Eunice já tinha frequentado uma licenciatura em música, em flauta de bisel, andou anos no gregoriano, danças de salão e depois veio o teatro, mas não seria por isso que iria descurar das outras valência.
A Filipa já tinha estudado e praticado desenho e pintura e gostava (e sabia) dançar.
O Sérgio tinha um amor enorme ao fado e gostava de o cantar, assim como desde pequeno que escrevia e... porque não aproveitar isso?
Entre outros casos: Rui fazia B.D., a Sandra cantava, a Olena tocava piano, cada um praticava outras artes, então vamos incluí-las no grupo!
E assim foi.
Três anos de faculdade, cada Verão era feira de S. João, mudava as peças, mudava a atuação dos mimos mas o gosto em continuar a fazer algo na rua estava lá.
Fomos actuando onde fomos chamados, às vezes eramos mais, outras vezes menos. Tínhamos membros que precisavam de se dedicar mais ao curso, deixaram de trabalhar tanto connosco, outros entravam.
Escolas, teatros, auditórios, rua, fosse Natal, Páscoa, Halloween, ou só porque sim, porque gostavam de nós, porque surgia a oportunidade, lá íamos actuar.
Não era uma correria, ou seja, não tínhamos espetáculos sem parar todos os dias, até porque tínhamos o curso, o grupo não tinha tempo e estabilidade para isso e, claro, por todas as condicionantes e obstáculos na cultura e arte no nosso país, ainda para mais Évora, muto pouco dinâmica, população maioritariamente idosa, um clima de inércia que ali se mantinha, digamos.
No último ano da faculdade tudo deu uma enorme volta e ninguém poderia supor que nada ia ser como dantes...
Favorecia-nos o facto de que o Pólo das Artes (excepto música) tinha aulas no mesmo sítio, todos vizinhos, mesmo havendo alguma distância psicológica entre os cursos. Por isso, resolvemos enviar um e-mail geral, dirigido a todos os alunos de artes, a pedir músicos, pintores, escultores, arquitectos, designers, toda a arte existente ali e até pessoas das letras.
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| Os músicos Ana Botelho, Margarida, Nelson e João |
Com alguma aderência, dava para juntar todos e não ter de seleccionar e excluir ninguém, algo terrível de se fazer, quando todos são óptimos profissionalmente e humanamente .
Delineámos vários projectos para fazer, juntámos contactos e tentámos caminhar num caminho mais "sério", quer dizer, ensaios recorrentes, tentar ter sempre apresentações e ganhar mais dinheiro com o nosso esforço.
Foi difícil, terrível até, pelos mesmo motivos supra mencionados.
Há alunos que precisam de estudar mais, ou porque têm ritmos diferentes ou porque lhes é exigido mais estudo por parte de alguma cadeira e professor e há que respeitar. Évora não paga a artistas (o país quase todo, mas estávamos em Évora, não me posso referir a outros locais), Évora demora muito tempo para tratar de burocracias e nós somos também arrastados para o pessimismo e para a inércia. Energia atrai energia - lei da atracção. Um ambiente inerte durante muito tempo, não há dinamismo nem defesas que prevaleçam.
Houve projectos deixados para trás, houve projectos apresentados (ou pelos menos os artistas estavam lá para apresentar) e não havia público, houve colegas que desistiram (uma em especial que ainda hoje estamos para saber o que se passou), enfim, coisas normais de quem começa alguma coisa. Nada, nem ninguém é perfeito.
Houve muita coisa boa, muita aprendizagem, muito trabalho: sessões de poesia, teatro de revista, demos aulas de teatro, Halloween, madrigais, teatro, dança, performance, Carnaval, dinamizámos festas religiosas, trabalhamos com idosos, crianças, escolas Secundárias, Teatro Garcia de Rezende, com a Câmara Municipal, no Palácio D. Manuel, na Casa da Zorra, enfim, uma panóplia de locais e projectos que deram certo.
Tudo tem um tempo e um espaço para acontecer e tudo tem uma validade para durar.
Chegara o momento de mudarmos de vida, o grupo mudar de ares. Claro, esta mudança implicava deixar membros que ainda precisavam de ficar em Évora, mas outros partiram juntos. Os diretores Sérgio e Eunice partiram de Évora e até mais tarde vieram a encontrar colegas de Évora de outros cursos de artes, em Lisboa, prontos a colaborar com o Grupo.
Por outro lado, gostamos de pensar que o grupo separa-se, mas de quando em vez cruzamo-nos nos trilhos da vida como chegou a acontecer para trabalhar e conviver e, afinal, todos continuam Freya, o grupo prolifera, reproduz-se, dinamiza vários pontos do mundo (sim do mundo! saberão a seu tempo!) e todos, os que gostarem e quiserem são Freya. Sempre gostámos da ideia de comunidade, família, laços.
Antes de virmos para Lisboa, demos um saltinho até Paris... Mas será uma próxima conversa a termos convosco! ;)
| Próxima paragem: Paris :D |

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